Advogados consultados pela Folha, porém, acham improvável processo criminal durante o mandato.
Diante das crescentes suspeitas envolvendo assessores diretos seus, o risco de o presidente Donald Trump sofrer um impeachment no Congresso é hoje maior do que o de uma condenação na Suprema Corte por obstrução da Justiça, conspiração com os russos ou crimes financeiros, afirmam advogados ouvidos.
Mas é improvável que ocorram grandes movimentações antes das eleições legislativas, em novembro próximo.
Na última segunda (21), o presidente levou dois golpes na batalha para provar, ao menos para a opinião pública, que não tem nada a esconder.
Primeiro, seu ex-advogado Michael Cohen admitiu ter pago pelo silêncio da atriz pornô Stormy Daniels, que alega ter mantido um caso com o presidente antes de ele se eleger, e de uma ex-modelo da revista Playboy a mando de Trump.
Quase ao mesmo tempo, seu ex-chefe de campanha, Paul Manafort, foi condenado por crimes financeiros. A pena prevista é dez anos de prisão.
Além disso, o presidente está enrolado em acusações de obstrução de Justiça por demitir agentes do FBI que investigam a relação de sua campanha com Moscou.
O pagamento feito por Cohen às mulheres durante a campanha de 2016, não declarado, fere as regras sobre financiamento eleitoral e é ilegal, explica Susan Low Bloch, professora de direito da Universidade de Georgetown.
Trump tem se defendido nas redes sociais, afirmando que as violações “não são um crime” e que pagou com dinheiro do próprio bolso.
Mas processar um presidente criminalmente no exercício do mandato não é praxe nos Estados Unidos.
O entendimento de especialistas é que o julgamento deve ser político, feito pelos membros da Câmara dos Representantes e do Senado. A Constituição não é clara sobre a questão, mas não há precedentes na história do país.
Até hoje, os Estados Unidos nunca tiveram um presidente demovido em impeachment.
O processo foi instaurado, no entanto, em duas ocasiões: com Bill Clinton (1993-2001), que mentiu sobre seu caso com a ex-estagiária da Casa Branca Monica Lewinsky, e com Andrew Johnson, em 1868, sob alegação de inconstitucionalidade na troca de um membro do gabinete.
Richard Nixon, o caso mais célebre de presidente que não terminou o mandato, renunciou em 1974 antes que fosse aberto processo por sua participação no escândalo Watergate, em que seus acessores instalaram escutas no escritório da campanha adversária na eleição anterior.